Equipe Even Faster – Treino – 14 de maio de 2022

Meus Lauries e Minhas Charlottes,

         É muito engraçado a gente pensar em coisas que já se passaram há um certo tempo. Hoje de manhã, eu estava olhando a gurizada treinar na Beira-Rio, e comecei a me lembrar das conversas que tive com alguns atletas ao longo da semana que passou. Lembrei que falei a vários deles que faz um longo tempo que corri a minha primeira maratona – olha… faz tempo mesmo!

Vou tentar fazer uma rápida revisão deste passado distante pra vocês.

Figura 1 – Juliana Cargnelutti, atleta Even Faster, treinando na Beira-Rio hoje de manhã.

Ao que parece, a primeira maratona realizada no Brasil com quilometragem de 42.750 metros foi realizada em São Paulo em 14 de agosto de 1921, e é óbvio que desta eu não participei! O campeão foi Roberto Costa que, representando o Brasil Esporte Clube, terminou a prova em 03h15min15seg. Haviam 26 inscritos para a prova, entretanto, somente 20 largaram e 10 finalizaram.

Figura 2 – Atletas treinando na Beira-Rio hoje de manhã.

Muitos anos mais tarde, um fator importante que contribuiu para o desenvolvimento da prática de atividade física no Brasil foi a campanha internacional, iniciada nos Estados Unidos da América (EUA), para a prevenção de doenças coronarianas, por meio do estímulo de “exercitar-se” ou “mover-se”. No Brasil, a campanha governamental, intitulada “Mexa-se”, deu início a esses valores estabelecidos no meio médico, em particular, pelo doutor Kenneth Cooper. Essa campanha tinha o intuito de promover a saúde e diminuir a taxa de sedentarismo nos anos 1970 e início dos anos 1980.

Figura 3 – Disco (vinil) com músicas para “malhar” e suar.

O governo utilizava-se do slogan “tem que malhar, tem que suar” propagado pelo ator e esportista Nuno Leal Maia.

Figura 4 – Ator Nuno Leal Maia.

A cidade do Rio de Janeiro ditava o ritmo do esporte, impulsionado pela novela que tinha na trilha sonora os irmãos Marco e Paulo Sérgio Valle cantando “tem que malhar, tem que suar”. A prática de exercícios aeróbicos era também disseminada pelo desenvolvimento do jogging, divulgado pelo professor Cláudio Coutinho (preparador físico da seleção brasileira de futebol nas Copas do Mundo de 1970 e 1974 e técnico em 1978), que utilizava o método Cooper para o treinamento dos jogadores. Naquele momento, em 1970, o Brasil acabava de conquistar a Copa do México, quando foi tricampeão mundial.

Figura 5 – Cláudio Coutinho com Zico no Flamengo.

Há algumas controvérsias sobre a ocorrência da primeira maratona no Brasil. Isso se deve à precária realização das provas, ao sistema de medição e à pouca divulgação, ocasionando resultados pouco significativos. Em razão do sistema de medição pouco eficiente, diversas eram as provas que, embora intituladas maratonas, não representavam a real medida de 42,195 km. Há registros de provas de medida inferior sendo chamadas de maratonas.

Nos anos 1980, o Rio de Janeiro começou a promover maratonas regulares. Elas iniciaram em 1979, com a realização da “1ª Maratona Internacional do Rio de Janeiro”. Isso foi devido à corredora Eleonora Mendonça, radicada nos EUA, que em 1978, junto com o jornalista americano, que morava no Brasil, Yllen Kerr, e Paulo César Teixeira, esportista e administrador de empresa, criou a empresa Promoções Internacionais (Printer). Com isso, um pouco da cultura norte-americana de corrida é importada para o Brasil.

Figura 6 – Eleonora Mendonça, excepcional atleta e pioneira na realização de maratonas no Brasil.

Após esse primeiro passo na realização de maratonas no Brasil, o jornalista e esportista José Inácio Werneck, naquele momento diretor de esporte do Jornal do Brasil, teve a ideia de promover uma maratona. Obteve a aprovação junto a direção do Jornal, e conseguiu suporte financeiro do grupo Atlântica Boa Vista e, em 1980 coloca seu projeto em prática. Outro importante elemento que impulsionou as corridas foi o lançamento da revista de corrida denominada “Viva – A Revista da Corrida”, em 1982, que pertencia ao Jornal do Brasil. Até então, as informações sobre as competições eram disseminadas muito informalmente pelos próprios corredores, em colunas de jornal e, às vezes, por alguns informativos de corrida, como o “Correndo Atrás” e o “A Pé Mesmo”.

Figura 7 – Capa da Revista Viva de junho de 1983.

A participação de atletas estrangeiros, a realização de simpósios e o crescimento do número e qualidade dos maratonistas brasileiros, fez com que as maratonas do Rio de Janeiro começassem a atrair um grande número de corredores. Então, em setembro de 1980, realizava-se a 2ª Maratona Internacional do Rio de Janeiro, organizada pela Printer, registrando a participação de mais de 700 corredores. E, dois meses depois, em 15 de novembro de 1980, realizava-se a maratona organizada pelo Jornal do Brasil intitulada “1ª Maratona Atlântica Boavista/ Jornal do Brasil”, com esse nome devido ao patrocínio da Atlântica Boavista (atual Bradesco Seguros).

Com toda a estrutura montada em 1980, no ano seguinte, altera-se o número de competidores. A 2ª edição da Maratona Atlântica Boa Vista Jornal do Brasil, teve aproximadamente 2 mil inscritos e totalizou, 1.785 concluintes em 1981.

Em agosto de 1982, a Maratona Atlântica Boavista/ Jornal do Brasil passa a se chamar “Maratona Bradesco/ Jornal do Brasil”, com 3.496 “finishers” dos 4.000 inscritos, e, pasmem: eu fui um deles! A prova teve alguns atrativos como: o sistema de cronometragem adotado, a medição oficial do percurso que em caso da conquista de recorde seria homologado pela Federação de Atletismo do Estado do Rio de Janeiro (FARJ), premiação para categorias (para os três primeiros) e troféus para os três primeiros na geral, premiação, para atletas naturalizados brasileiros, e passagem e estadia para a “Maratona de Nova York” daquele ano. Os participantes que concluíam a prova ganhavam uma camiseta comemorativa.

Em 1983, é realizada a “4ª Maratona Bradesco/ Jornal do Brasil”, no Rio de Janeiro. O percurso da prova foi mostrado através de uma caricatura no Jornal do Brasil. Acredito que muita gente, hoje, acharia este desenho “politicamente incorreto”, pois tem até um garçom com uma bandeja de bebidas dizendo que têm bares em toda a orla – imagina se maratonistas entrariam em bares pra beber chopps e comer “pasteus” … Saibam que eram outros tempos! Tempos do romantismo nas corridas…

Figura 8 -Caricatura do Percurso da IV Maratona Bradesco Jornal Do Brasil.

Inscreveram-se mais de 7 mil corredores, mas somente 4.383 concluíram a prova. E, mais uma vez, pasmem: eu fui um deles! E posso provar! Vejam as fotos abaixo!

Figura 9 – Capa da edição do Jornal do Brasil que trazia o resultado da prova.
Figura 10 – Página da Sessão de Esportes onde inicia a divulgação dos resultados.
Figura 11 – Fiquei em 1792º lugar com o tempo de 04:07:51.

É, gurizada… Muito tempo se passou desde que esta brincadeira de correr veio para o Brasil e se tornou parte do nosso cotidiano. Hoje, eu só tenho a agradecer a este esporte fantástico que promove uma baita qualidade de vida a todos os seus praticantes!

            Para quem quiser maiores detalhes, e desejar se aprofundar neste assunto, eu sugiro a leitura do artigo “Uma Prática Corporal que Chegou para Ficar: as Primeiras Maratonas no Brasil” de Camila da Cunha Nunes e Manoel José Fonseca Rocha.

            Nos vemos pelos parques e pistas da cidade ou pela Beira-Rio nos finais de semana.

Que o bom e maravilhoso Deus continue nos abençoando e protegendo!

Um abraço, um beijo e um queijo pra todo mundo!

Juarez Arigony